terça-feira, maio 03, 2016

Alerta Nuclear


As Templárias - Alerta Nuclear
este inventário «Alerta Nuclear», complemento do assentamento «Desmoronamento Nuclear» publicado por ocasião do trigésimo aniversário do acidente de Chernobyl ocorrido a 26 de Abril de 1986, As Templárias evocam, com extremo rigor, trechos dos primeiros alertas sobre armamento e experiências nucleares noticiados na Imprensa diária portuguesa, neste caso em Abril de 1957.

Convirá precisar que a primeira explosão atómica experimental deu-se a 16 de Julho de 1945, no deserto do estado do Novo México, Estados Unidos da América do Norte, levada a efeito pelo grupo de cientistas que trabalhava e colaborava com o governo norte-americano para fins militares. A explosão deu-se às 5h30 com aparato e consequências devastadoras que satisfizeram as exigências de momento. Depois de concluídas as primeiras experiências, tendo sido publicados os resultados para as que se fizeram do lado de cá da cortina de ferro, a 1 de Novembro de 1952 foi lançada uma em Eniwetok. A chama da explosão apresentou 4 km de largura e 10 km de altura. No dia 1 de Março de 1954, uma nova experiência tornou-se pública devido a um incidente marítimo. Um barco de pesca japonês, o Fukuryu Maru N.5, tendo passado a algumas boas centenas de quilómetros do ponto da explosão, viu cair sobre ele uma espécie de cinza que, embora lhe parecesse estranha, não foi considerada; dias depois, a tripulação viu-se atacada de radioactividade, antes desta iniciar o seu processo de óbitos. O episódio, público, veio despertar um determinado número de pessoas reflectidas. Assim, passamos a citar alguns dos dizeres - considerados pertinentes apesar das condições, subserviências e balizamentos relacionados com regime de então - extraídos de jornais e revistas de referência em Portugal, nomeadamente do Diário de Notícias (DN), entre outros entretanto fusionados ou extintos.





Alertas na Imprensa portuguesa



«Se conseguirmos pôr termo às experiências com bombas atómicas, será, para a nossa pobre humanidade, uma alvorada radiosa, iluminada pelo sol da sua esperança» declarou Albert Schweitzer, fundador do Hospital de Lambaréne (no Gabão), durante um discurso em Oslo, a 23 de Abril de 1957. Mais tarde, o médico teólogo laureado com o Prémio Nobel da Paz em 1952, remata: «Somos portanto obrigados a considerar que todo o agravamento do perigo actual, provocado pelo desenvolvimento de elementos radioactivos libertos pelas explosões de bombas atómicas, constitui uma desgraça para a humanidade que é preciso impedir por qualquer preço».

No dia 23, em Paris, o físico francês Joliot-Curie, especialista em física nuclear laureado com o Nobel de Química em 1935, declarou - um ano antes da sua morte - que elementos radioactivos na atmosfera causariam manifestações de cancro, no caso de as experiências da bomba de hidrogénio não serem interrompidas: «O elemento radioactivo estrôncio 90 (Sr-90) produzido pelas explosões de bombas atómicas e de hidrogénio cai lenta e continuamente na terra com o pó e a chuva e deposita-se na vegetação. Homens e animais domésticos comem essas plantas e os seus organismos absorvem assim o estrôncio, prejudicial devido às suas radiações. Se as experiências não forem interrompidas, a quantidade daquele elemento que afecta os homens e, especialmente, os jovens que crescem, atingirá por certo um nível suficiente para causar numerosos cancros e leucemias. Muitas pessoas mostram-se indiferentes, julgando que é garantia o facto de viverem longe das zonas das explosões. Enganam-se, todavia. Um grande perigo pesa sobre os nossos descendentes se as explosões de armas nucleares não forem imediatamente interrompidas».

Na sexta-feira, a 26 de Abril, em resposta ao recente apelo do Dr. Schweitzer, o Dr. Libby, membro da Comissão de Energia Atómica dos Estados Unidos, declarou que o perigo proveniente das experiências de armamento nuclear, à cadência em que eram realizadas, era mínimo. Nesse mesmo dia, em Washington, acrescentou: «Não quero dizer que não haja perigo nenhum, mas quero provar que é ínfimo em comparação com aqueles que os homens consideram normais durante a vida».

Na tarde do dia 26, em Sidney, o professor australiano Marcus Oliphant, então director do Instituto de Investigações Físicas de Camberra e por muitos considerado pai da fusão nuclear, declarou que: «dentro de cinquenta anos, a radioactividade será suficiente para pôr em perigo a vida do homem».



No Congresso dos Estados Unidos


No Congresso dos Estados Unidos, para uma melhor compreensão do quesito, as consequências genéticas da radioactividade foram expostas por três cientistas. Em Washington, nessa terça-feira 4 de Junho de 1957, afirmaram que: «as chuvas radioactivas já causaram um mal considerado irreparável ao sistema hereditário que constitui o molde em que se forma a raça humana». Estes três especialistas acrescentaram ainda que: «os estragos trazidos à raça humana multiplicar-se-ão proporcionalmente ao aumento das chuvas radioactivas porque, do ponto de vista da genética, não existe dose de radiação isenta de perigos. Se os ensaios nucleares continuarem ao ritmo actual, milhares, se não milhões, de seres humanos, nas gerações futuras, morrerão prematuramente, serão doentes, deformados e/ou sofrerão de qualquer maneira dos efeitos das radiações».

Deixemos o primeiro quadro negro que estes cientistas apresentaram e vejamos agora que declarações cederam, também nesse evento bicameral, acerca do segundo, respeitante a enfermidades e resistências às doenças. Com efeito, quanto à mais grave consequência a suportar pelo indivíduo exposto às radiações médias, um deles, o Dr. Muller, deixou claro que: «consistirá num enfraquecimento insidioso da resistência do corpo às afecções de toda a espécie, traduzindo-se por um abreviamento da vida, bem como pela provocação de certas desordens específicas, tais como a leucemia». Para os peritos, a relação entre a elevada incidência de certos tipos de leucemias e linfomas, entre outras hemopatias, e a radiação identificada em Hiroshima, Nagasaki e Chernobyl, é hoje uma constatação indiscutível.



A Gripe Asiática


Tratando-se de uma doença infecciosa detectada em Fevereiro de 1957, em Pequim (China), considerada epidemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em Maio do mesmo ano, a 13 de Junho, em Londres, a revista médica «Lancet», num estudo consagrado à epidemia de gripe que grassou nesse ano no Extremo Oriente, declarou que os médicos ingleses eram de opinião que ela podia alastrar à Europa (ficando estacionária durante o Verão e despertar no Outono). Um correspondente da revista chegou mesmo a reagir, por seu lado, dizendo que essa epidemia teria relação com as experiências atómicas. Segundo ele: «o aumento das radiações, devido às bombas atómicas ou a outras fontes, provoca um aumento da frequência das mutações dos micróbios. O Extremo Oriente - prosseguiu ele - é a região do globo que mais tem sofrido, até agora, com a queda das poeiras atómicas. Por conseguinte, é possível que a gripe que lavra naquelas regiões represente uma nova e nefasta consequência das experiências nucleares». Depois disso, a realidade esboçara um quadro ainda mais negro; em apenas uma dezena de meses, o vírus acabaria por atingir a população mundial.