As Templárias, de espírito recto e disciplina rígida, num coração bondoso não se deixam alucinar nem pelo deficit nem pelo mal. Neste sentido, sem gládio exclusivista, inspiradas pelo humanismo extraem de preferência o que é bom; num gesto, o desejo mais amplo que ele; numa alma, a virtualidade generosa; num grão de mostarda, uma árvore em potência. Vistas as coisas à luz da perspectiva militar, pondo entre parênteses a realidade subjacente e a história dita contemporânea, poderíamos decerto invocar a conhecida fórmula do brioso General (Abel) Clément-Grandcourt: «O verdadeiro bravo, civil ou militar, espiritual ou temporal, sabe fazer o possível com o impossível». Não se trata esta, porém, duma rectidão marcial; antes duma Iluminação intestina dirigente que, proporcionando o seu esforço à missão, reserva sempre vivacidade para não ficar sem prescrição nem fôlego no momento de subir a encosta farpada.
Nos manuscritos do Mar Morto, o conceito filhos da luz entre os essénios é sequente. No Génesis, alude-se a este mistério na referência: «Faça-se luz, e a luz se fez». A este propósito, no yoga, a iluminação recebe o título de «samadhi» (ou moksha); no zen é tratada por «satori»; no sufismo é a «fana»; no taoismo aparece como «wu» (ou Tao/Dao Fundamental); para Sri Aurobindo (Ghose), a iluminação era a super mente. Na verdade, quando se semeia uma boa semente, esta quase nunca se perde. Pelo contrário, dá origem, mais tarde, a uma bela planta ou a uma árvore gigantesca, e com os seus frutos se alimentará o homem. Deitamos todas mãos à obra, que se o nosso trabalho responder a um pensamento justo e desinteressado, teremos contribuído para a Dignidade humana.
É um erro irremissível julgar-se que a delicadeza feminina é proibitiva da força. Com inquietação ou não, As Templárias esforçam-se por compreender os pensamentos distanciados e forâneos, insipientes ou profanos. Em todo o ser humano, existe complexidade de sentimentos que nem sempre afloram todos à consciência esclarecida. Dirigindo-vos ao que de melhor há num homem, chamais à luz (ver parágrafo anterior), sem que o interpelado dê por isso, os sentimentos que vão tornar-se vossos aliados. No tocante quer à juridicidade quer à tolerância, a Irmandade considera os homens de todas as raças, de todos os países e de todos os credos, costumes e tendências aceites pelas leis de cada país. Da formação cristã, conservou a ideia bela e profunda de que todo o homem é importante, não só como pessoa, como cidadão, mas como indivíduo fraterno. Contudo, actuando de acordo com a moral e com a sua concepção dos preceitos da unificação mundial, permitindo a harmonização dos subconscientes colectivos das diversas civilizações do mundo, dado que a base para a aliança das civilizações é a partilha dos valores, manifesta a sua mais expressiva repulsa perante toda e qualquer acção, quer exercida em proveito alienado próprio quer sob pretextos intrínsecos de tradição ou crença, catalisadora de violência.
Discretas e despretensiosas, As Templárias são-no categoricamente. Inspiradas na virtude e na abnegação, conciliam ainda a independência e originalidade das suas concepções pessoais com o mais devotado respeito pelas Regras. Autoridade forte é aquela que se apoia na força do Respeito. Convirá, porém, realçar desde logo que sair dos limites por este traçado é não só símbolo de provocação, mas também de desordem, cuja gravidade aumenta na medida da responsabilidade que se tem sobre uma colectividade.
As Templárias e a evolução
Não podemos nem devemos desejar que pare o desenvolvimento dos conhecimentos, o chamado "progresso", ainda que tenhamos de ser acometidos ou mesmo aniquilados pelo seu mau emprego. É a dura lição da História que todos os inventos se destinam a sustentar conflitos entre dois ou mais grupos distintos de indivíduos mais ou menos organizados e neles se aperfeiçoaram. Só depois do emprego maléfico e mortífero é que se procurou a aplicação dos inventos no bem-estar e desenvolvimento construtivo do homem. É lástima que assim seja, mas parece que não há remédio a este mal. Se as energias e dinheiros gastos em engenhos ofensivos e destruição tivessem sido despendidos em projectos de utilidade geral, viveríamos hoje numa atmosfera de regozijo e não de ansiedade e sofrimento. A humanidade continua entorpecida, consequente de conceitos excessivamente materialistas e mercantilistas dos tempos recentes, entretida apenas com valores inúteis e mundanos. Os atentados aos direitos hoje considerados fundamentais da pessoa humana, principalmente da mais vulnerável ou cujo agasalho apresenta menor capacidade de defesa, na realidade pouco o nada atormentam. Indisciplinada, alucinada e governada pelo encantamento endiabrado, por força dessa demência desgovernada, vê-se hoje refém do material, da prevaricação, da impunidade e do excesso de liberdade. Em todos os graus da escala social, na vida familiar como no labor profissional, se impõe a restauração do sentido da autoridade, e em contrapartida a reeducação do espírito de disciplina. A disciplina é a força matriz dos exércitos. É uma ideologia a que não falta o apoio da racionalização teórica, mas cuja ameaça advém sobretudo do facto de se insinuar, subtil mas eficazmente, no discurso dos políticos, dos encarregados da aplicação do direito criminal e nas representações colectivas. É também a força principal de uma nação que não quer parecer. O levantamento nacional exige a colaboração e a adesão de todos. Não é difícil identificar uma eventual ideologia de tratamento o essencial do conhecido positivismo e das suas concepções de política criminal. Ainda que investido duma autoridade cujo princípio remonta até Deus, quem manda permanece não obstante homem (frequentemente indigno do seu posto de comando).
Apenas o que nos custa nos faz evoluir, o que nos é realmente difícil, o que quebra a mecanicidade. Para além disto, será eliminado só aquele que não se queira adaptar. Já explicámos, como no comunicado de 2015 As Templárias contra o Terrorismo, que a nossa existência actual é totalmente diferente da dos nossos antepassados de há um par de séculos. A Honra e a Bravura para muitos manter-se-ão inalteradas, mas o tempo escorreu e hoje as nossas cruzadas são outras. Após tanta evolução e progresso de ideias, das técnicas e do saber acumulado, as missões actuais não se desenvolvem com a rigidez da antiguidade, visto que se foram adaptando às circunstâncias culturais. Para muitos, hoje As Templárias sugerem um romantismo e um ocultismo estranhos, dando azo à inevitável especulação. Contudo, se nuns o tempo soube conservar as virtudes sagradas, noutros, a malevolência - daqueles que incendiaram os velhos estandartes - continua também ela viva. Para estes renegados infiéis, assombrados pelo espírito obsceno de concupiscência endemoninhada, mais cómodo será distorcer os feitos e os factos (públicos).
As Templárias estão presentes. Nominalmente conscientes de si e sua origem, submetidas aos valores inerentes tendo memória de si, tem-se hoje considerado mais apropriado não exigir delas a não ser a religião comum a todos os cristãos, deixando a cada qual a liberdade dos seus sentimentos. Isto é, preparadas para as maiores e distintas proezas para o bem da humanidade, ultrapassando a intriga, os ódios e as invejas, serem denodadas dignas e fiéis e ter Honra e probidade, As Templárias tornam-se desde modo um imperecível núcleo, impondo uma União internacionalmente aguerrida, despretensiosa mas inquebrantável.
As Templárias e o sacrifício
Para As Templárias, não constituem barreiras que as detenham nem atemorização que as amedronte e/ou enfraqueça, mas trampolins que lhes dão ocasião de se alçapremar, obrigando-as a vencê-las. Quem nada deve nada teme. Deixando transparecer que receais uma resistência, provocai-la e dais-lhe corpo, pois numa missão as dificuldades existem para ser vencidas. Não receeis rebentar o abcesso num duelo, com os recalcitrantes - expeditos e aguçados - apontados, para pôr ordem no terreiro. Tirados os ventos, e restabelecida a confiança na Justiça (dum cumprimento dissuasor e não indulgente), restabelecer-se-á a Paz. Punir não é só um direito, é sobretudo um dever, por vezes doloroso, mas ao qual ninguém deve furtar-se. Por alma forte entende-se não a que conhece apenas as fortes emoções, mas antes aquela cujas fortes emoções não perturbam a afoiteza. Não há acção sem risco. Torna-se por isso necessário sopesar a ameaça, tentar diminuí-la, mas, por exemplo, conforme os termos do regulamento militar: «há que aceitá-la com vontade firme e resoluta». Todos sabemos que uma instituição, mais ou menos reservada, com objectivos claramente definidos, ainda que estes sejam nefastos para a humanidade, é imparável na sua consecusão. Contudo, entre ter os meios e tentar utilizá-los existe um enorme abismo, neste caso infranqueável.
As Templárias alojam, hasteiam e assentam a Honra em vez de habilidade. Esta Ordem, tendo em conta o seu independente carácter filosófico e filantrópico, das suas metas de justiça, virtuosidade e solidariedade humana, do seu espírito (esclarecido) progressista e da sua neutralidade política (imutável na teoria e na prática), possui características - lídimas - específicas próprias e deverá ser tratada tendo em conta o seu objecto social e as suas deferenças qualitativas em relação às outras. Não há nada mais prejudicial como a fraqueza e a lassidão, e nada mais humano do que a firmeza. Os regimes de pusilanimidade são os que ficam mais caros ao mundo.