quarta-feira, julho 22, 2015

As Primeiras Enfermeiras Militares de Portugal


aceitação de damas-enfermeiras foi comum a todos os exércitos beligerantes e Portugal não foi excepção, como é sabido. O que dificilmente consta nos documentos é que a então designada Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha (CVP) começou por ter cinquenta e quatro enfermeiras com equiparação a alferes e vinte e seis praças para servirem no seu hospital em França, que funcionava junto do Corpo Expedicionário Português (CEP), em Ambleteuse (comuna francesa situada no departamento de Pas-de-Calais).

Em Portugal, a CVP fundou uma Escola de Enfermagem em Lisboa, onde foram ministrados cursos a mulheres para depois prestarem serviço no Hospital Temporário, que funcionou na Junqueira. Numa tarde de Julho de 1918, doze dessas valorosas enfermeiras desvincularam-se da CVP e solicitaram ao comando do CEP a passagem à dependência directa da estrutura militar. Foi assim que, pela primeira vez na história das Forças Armadas de Portugal, mais propriamente sob a alçada do Exército Português, se incorporam mulheres nas fileiras, tendo-se formado o 1.º Grupo Auxiliar de Damas Enfermeiras (GADE 1). O grupo recém-nado foi colocado no Hospital de Sangue n.º 8, na altura estabelecido em Herbelles. Ao extinguir-se o Hospital da Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha, as enfermeiras que ainda restavam foram incorporadas e formaram o GADE 2, utilizado no Hospital de Base n.º 1, tendo substituído as enfermeiras britânicas.

O recrutamento de enfermeiras militares veio a ser regulamentado pouco depois (decreto de 28 de Agosto de 1918), no qual o Governo reconhece a necessidade de aprumar a mulher para desempenhar condignamente a missão de enfermeira militar e de criar a enfermagem feminina nos hospitais do país, nas frentes de batalha e noutros estabelecimentos congéneres. Com efeito, as escolas de enfermeiras militares destinadas ao Exército estavam hasteadas, autorizado o seu recrutamento, aplicando-lhes algumas condições excepcionais como o regulamento disciplinar do Exército para Oficiais, entre outras.

Cabe ainda destacar que, muito embora seja geralmente considerado o estatuto das enfermeiras portuguesas junto das tropas do CEP altamente meritório, já que serviu muitas vezes de lenitivo para a dor física e saudade da terra e da família distantes, o seu recrutamento não deixou de suscitar algumas reacções bastante críticas em virtude da suposta falta de formação específica do grupo assim constituído. O próprio chefe do serviço de saúde do CEP chegou a defender que o recrutamento do pessoal feminino, nas condições anteriores, não permitia o seu aproveitamento em serviços de responsabilidade, tornando, assim, a sua presença em França um luxo dispendioso e inútil.

Sempre distantes de toda e qualquer índole feminista, homenageamos hoje a Enfermeira Militar. Em particular a Honrada que anuncia o nascimento de um filho, denuncia os gritos de outros e marca presença destemida no teatro do dever. Aquela que sentiu, na carne, o que significa assistir ao sofrimento dos filhos no cumprimento da sua missão; ou daquelas que acompanharam esses filhos, como maridos e pais de seus filhos. Finalmente, as maiores felicidades para As de hoje que se juntam connosco na frente da Bravura e da Dignidade e, com a sua presença, nos tornam ainda mais Humanas.